quinta-feira, 3 de maio de 2012

Eu canso de ver as bocas abrindo e fechando

era um maldito sábado
de um maldito feriado prolongado e
me convenceram a sair de casa.

fomos parar em um sitio,
estava anoitecendo e chovia.
eu não me sentia animado o suficiente
e havia acabado de romper um relacionamento
turbulento ao ponto de me fazer querer ficar
entrincheirado por um ano.
alguém que já estava bêbado
repetia sem parar "você vai ao show com a gente"
"não tenho dinheiro" eu disse, "não arrumo emprego,
estou ficando sem dinheiro até pra cachaça"
"mas eu pago, você vai com a gente"
"ok" respondi, porque sabia que no dia seguinte
isso já não teria mais acontecido

estavamos todos sentados em uma mesa
conversando sobre coisas que eu
fingia interesse e um outro bêbado igual ao primeiro
contava sobre três garotas que ele não podia foder
por causa do amor pela namorada.
"mas elas querem, as três querem e eu também" ele dizia.

com o auxilio de uma garrafa de rum
eu ficava imaginando o quanto meus
próprios amigos me cansam e lutei
dentro da minha cabeça para tentar descobrir
o que há de errado comigo ou
com eles

o fato é que ainda
não descobri.

mas lá a batalha estava dura,
vomitei duas vezes sem abandonar o copo
e sentia minhas palavras e meus
ouvidos morrerem de fome e
frio enquanto se arrastavam por
pastagens e casas queimadas em meio a nevasca
como se fizessem parte do exercito de Napoleão ao
tentar domar a Rússia.

concentrei-me na garrafa
e logo retirei o que sobrou do exercito
para uma cama com um
colchão gasto,
solitário em meio as vozes.

eu sabia que assim
estaria bem,
pelo menos
até a hora de
despertar