quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Às 5 da manhã

coisas batendo na cabeça
às 5 da manhã
talvez um tijolo ou
uma garrafa vazia,
um estalo no cranio e
avencas brotando pelas orelhas
em meio ao calor.

acomodo-me no sofá
ao mesmo tempo em que alguém tenta vender
modernos utensílios
dentro da minha TV muda
igual um tumulo formado por luzes

percorro os canais
e lá estão mais utensílios
ou previsões do tempo e
telejornais carregados de "bom dia"
prestes a começar

o mundo nunca parece tão feito
de televisores e coisas batendo
em cabeças como é
às 5 da manhã
enquanto o tempo faz questão de morrer
sem passar.

um murro num velho filme de ação bate
o uísque barato
canções desconhecidas batem
e o resto descansa
numa especie de sono
interminável
e estou tão acordado
quanto jamais estive

desligo a TV.

vou até o banheiro
jogo água no rosto e
encaro o espelho, não há nada a fazer.
caminho para o quarto
não acendo a luz
ligo o ventilador.
atiro-me na cama e faço um casulo com o lençol.

mantenho os olhos fechados.

as janelas batem,
e as portas
e os pássaros
e sol

você também bate em minha cabeça
com toda a força que o silêncio pode ter
às 5 da manhã.