terça-feira, 29 de setembro de 2015

Rigor mortis

Era estranho estar diante do fim. Abraça-la e não sentir nada além de um garrote preso à garganta, e na ponta dos dedos um formigamento de quase morte. Era estranho porque fazia calor e meus lábios, pela primeira vez, sentiram em seu pescoço um frio cadavérico.

Buscávamos, os dois, dizeres finitos e insignificantes num enorme cemitério de palavras, mas falar já era impossível afinal as palavras é que morreram primeiro, num outro momento, num outro tempo que não era aquele.

Soltamo-nos e cruzamos nossos olhos, negros como nuvens de tempestade, uma última vez.

Breu fez-se ao redor, misturando-se aos seus cabelos e engolindo aquele dia de verão. Nossos lábios, antes carne, agora eram lápides cinzas. Estávamos rígidos.

Aquele dia não era dia. Era tarde demais.