sexta-feira, 9 de julho de 2010
Ego
Quando consigo não ter o infeliz auxilio de tal sentimento e assim usar apenas a razão, me sinto forte e maduro para desviar das barreiras que são jogadas em nossa cara como um verdadeiro saco de merda durante toda a vida.
Penso muito sem querer pensar e por assim ser me pego de braços cruzados nas noites de duelo entre eu e meu ego escroto, olhando estrelas que nem se quer existem num céu imaginário projetado por olhos turvos e cansados da infinita seca presente nos rostos alheios, da falta de carater de alguns tantos e da mesmice de todos os dias enquanto aguento as bofetadas frenéticas desse ego insano que controla meus delírios involuntários. Ele fala, ele pergunta, não se cala. Tampo os meus ouvidos a fim de não ouvir suas palavras, em vão. "Não quero", eu digo. "Sem chances, fim da linha", ele responde.
Venho tentando me fixar em alguns ideais com o propósito de não perder o pouco de sentido que ainda me resta para continuar tudo isso, continuar correndo em direção ao nada talvez, mas continuar correndo. É nessa corrida sem linha de chegada que vejo os sinais da minha existência e posso ter certeza de que em vida, não morrerei.
sábado, 26 de junho de 2010
A insônia de Carlos
Eu trabalho em uma loja de moveis antigos e outras tralhas usadas. Tenho que pegar um ônibus as 7:00 para abrir a loja as 8:00 e lá ficar até as 18:00. Não tem muito movimento então o que eu mais faço é tirar o pó das coisas que sempre ficam empilhadas aos montes.
Olhando toda essa gente que passa por aqui, penso em como o ser humano é curioso. Muitos extraindo prazer do consumo, com seus carros do ano, e suas roupas importadas e do outro lado um grupo praticamente invisível que parece figurar como a plateia de um desfile escroto regado a luxo, fumando pedra e pedindo dinheiro e cigarro para os asquerosos que passam obcecados pelo trabalho, saltando por cima das pernas dos chapados. Me custa entender qual a graça que há nisso tudo, no consumo desenfreado e na busca por dinheiro como se esses malditos pedaços de papel fossem realmente a felicidade. Não sei mas as vezes me sinto só e perdido nesse mundo que ao meu ver, esta em ruinas.
Já no ponto de ónibus, ouço o seguinte dialogo entre dois garotos que aparentavam ter, sei la, seus 17 anos e provavelmente estavam indo pra escola:
- Po, adivinha! Meu pai comprou mais um carro ontem, falou que esse é pra mim! - disse o mais baixo e gordo, provavelmente de tanto comer mac donalds - O melhor disso que é que as gurias adoram os guris que tem carro! Concluiu eufórico.
O outro meio triste e sem jeito, tentando disfarçar respondeu
- Legal... Meu pai vendeu nosso carro pra pagar o aluguel, quase fomos despejados esse mês...
- Porra, e quando você vai pagar os 10 reais que te emprestei?
- Eu vou pagar, Bruno, vou pagar...
domingo, 20 de junho de 2010
A voz ria incansavelmente. Naquele momento ele só podia desejar ser surdo.
sábado, 29 de maio de 2010
Dois mundos
De uma lagrima fez-se o adeus
Dos dois mundos, sobrou apenas o teu.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
- O rum me faz lembrar muitas coisas... - digo.
Ela saboreava a bebida atenciosamente e parecia se perder em meio ao vasto céu que hoje estava bem claro. Pensei que nem tinha me ouvido mas logo perguntou:
- Que tipo de coisas?
- Lembro do passado, de todas as merdas que já fiz e que continuo fazendo. Lembro que sou um eterno fracassado.
- Vai estragar mais um domingo com esse papo?
- Não é só papo - fiz uma pausa para procurar no bolso o maço de cigarro - é a realidade.
- Tu não é fracassado, é cego, vive desperdiçando suas melhores oportunidades...
- Oportunidades, desde quando ver todos os sonhos desabarem é oportunidade?
- Se você continuar nessa linha de pensamento medíocre, sempre vai estar afogado em seus fracassos mesmo... - suspirou - E pare de fumar!
- Medíocre, ta ai o tipo de gente que sou, Isabela! - gargalhei cruamente - e por um acaso, to desperdiçando o que?
Irritada Isabela chutou a garrafa para o meio fio da calçada, pegou sua mochila e se foi. Pude ouvir ela falar bem baixinho:
- Desisto, pra mim tu gosta é de sofrer...
segunda-feira, 26 de abril de 2010
216 Km.
- Vai comigo ou não? - perguntou ela meio irritada - estou te esperando a meia hora cabeção, se não quer ir fale logo.
- Meu deus Emily, deixa eu pelo menos terminar o café!
Ela respondeu baixinho resmungando coisas que eu não entendi.
Abocanhei inteira numa única mordida a fatia de bolo que estava comendo, apanhei meu casaco no cabide que ficava atrás da porta da sala de estar e vesti meu gorro. Ela acompanhava cada movimento meu com olhares intimidadores.
- Vamos guria, tenho certeza que as maçãs ainda não correram da árvore - Brinquei.
Emily era baixa, mais ou menos 1.57 de altura, tinha 19 anos, não sorria muito e se irritava com facilidade, era realmente uma pessoa difícil de se conviver. Só de olhar em seus olhos já podia perceber como ela sentia necessidade de carinho e atenção, coisa que apesar da minha minha inexpressividade eu tentava ao máximo transmitir. Seus olhos eram azuis, mas quando estava frio ficavam meio acinzentados, sempre cortava seu negro cabelo bem curto cobrindo as orelhas, de modo que seu pescoço ficava visível, no inverno sempre usava o cachecol preto e vermelho que eu havia dado de presente.
A manha estava realmente muito fria, não sei quanto a Emily mas a brisa fazia meus olhos arderem e as pequenas gotas de orvalho contidas nas folhas da macieira escorrerem. Enquanto ela apanhava as maçãs, com um leve sorriso no rosto eu observava com atenção minhas mãos e tentava mais uma vez encontrar em suas linhas a resposta que vinha procurando a muito tempo.
É sempre assim, você volta a aparecer na minha memoria e trás consigo aquela duvida, só para me atormentar. A historia que você me contou naquele dia ficou guardada aqui, mas faltou alguma coisa para que eu possa compreender o final, a moral, sem continuar me culpando.
Emily não podia te ver em meus pensamentos, mas podia sentir, logo não demorou muito para atirar uma das maçãs na minha cabeça:
- Escuta aqui, eu sei o que você ta pensando, é naquilo de novo não é? - indagou - Se for começar a ficar melancólico agora eu vou jogar todas as maçãs dessa cesta na sua cabeça!
Eu apenas sorri, ela largou a cesta no chão e correu para me abraçar:
- Vou ligar para a Sandra e pro Fábio e vou marcar alguma coisa pra gente fazer hoje a noite ta? Eu sei que você gosta da madrugada... - Disse acariciando meu rosto.
- Provavelmente eu já teria enlouquecido se não fosse você - Sorri - Mas isso esta errado, eu tenho que cuidar de você, não você cuidar de mim, te prometi isso quando há encontrei perdida naquela praia...
- Bobo, nós nos cuidamos juntos, pode ser?
- Ta bom, ta bom... por enquanto vou aceitar essa proposta.
Emily me fez entender que o final que sempre procurei, o final que separou eu de você, ficou avulso, oculto, perdido em meio ao tornado que você criou dentro de mim, esse que causou destruição e confusão em todos os meus sonhos.
Na poça sombria do passado, continuo vendo você e ainda posso lembrar do dia em que o meu mundo acabou em 216 Km de saudade.
Abaixei para pegar a sexta das maçãs e abracei Emily pela cintura:
- Agora vamos pra casa, que estou sentindo uns pingos de chuva baterem no meu rosto...
quinta-feira, 4 de junho de 2009
"Em certas ocasiões, o destino se assemelha a uma pequena tempestade de areia, cujo curso sempre se altera. Você procura fugir dela e orienta seus passos noutra direção. Mas então, a tempestade também muda de direção e o segue. Você muda mais uma vez o seu rumo. A tempestade faz o mesmo e o acompanha. As mudanças se repetem muitas e muitas vezes, como num balé macabro que se dança com a deusa da morte antes do alvorecer. Isso acontece porque a tempestade não é algo independente, vindo de um local distante. A tempestade é você mesmo. Algo que existe em seu íntimo. Portanto, o único recurso que lhe resta é se conformar e corajosamente pôr um pé dentro dela, tapar olhos e ouvidos com firmeza a fim de evitar que se encham de areia e atravessá-la passo a passo até emergir do outro lado. è muito provável que lá dentro não haja sol, nem lua, nem norte e, em determinados momentos, nem hora certa. O que há são pequenos grãos de areia finos e brancos como osso moído dançando vertiginosamente no espaço. Imagine uma tempestade de areia desse jeito. [...]
E quando a tempestade passar, na certa lhe será difícil entender como conseguiu atravessá-la e ainda sobreviver. Aliás, nem saberá com certeza se ela realmente passou. Uma coisa porém é certa: ao emergir do outro lado da tempestade, você já não será o mesmo de quando nela entrou. Exatamente, esse é o sentido da tempestade de areia.”
- palavras do menino chamado Corvo, Kafka a beira-mar de Haruki Murakami