Sarah rompeu o silêncio.
- Uma pessoa precisa de muitas coisas para que olhem bem pra ela, ou é simplesmente lixo.
- Eu sei, ela precisa ser estúpida o suficiente. O mundo exige muito disso.
- Você precisa se movimentar mais. Largar esse copo, sabe? Viver - ela disse enquanto pedia mais uma dose de conhaque com canela.
- Tem gente que só acha a vontade de viver depois que morre...
- Mas aí não é preciso achar mais nada, terminam-se as buscas.
- É por isso!
Naquele momento, brindamos a ruína e toda a merda que cercava nossas vidas empoeiradas, sujas e lamacentas. Uma sequência de fatos, a rotineira catástrofe humana e suas inutilidades e futilidades. Fome de alimento, fome de amor e dor; corpos fedorentos, podres por dentro. Brindamos ao homem como uma raça morta, e ao sono como única esperança.
- Que seja eterno, que seja eterno... - sussurramos, por fim.
A noite caía lá fora, e todo o resto caía também.