quarta-feira, 7 de março de 2012

Você, Cesar

Seu nome é Cesar Costa Magno, mas com o passar dos anos a maioria resolveu te chamar de Cezinho. Você não sabe a origem do apelido, nem mesmo lembra quem ao certo o inventou, mas tem certeza que o odeia e nunca se viu em posição de recusa-lo, apenas para preservar seu autocontrole sobre sua personalidade insana e enlouquecedora. É só vez ou outra que ela desliza de seu interior para as luzes do mundo, geralmente em seus momentos mais solitários, pois não gosta de chamar a atenção, não suporta olhos presos em seus movimentos. Você prega a invisibilidade e é fadado a viver num mundo de aparências. Todos esses patifes e suas autogabações causam coisas dentro de ti; é a morte deles que você espera, que você quer provocar. Você vê futilidade em tudo, Cesar. Você não suporta superioridade ao seu redor, não quer sentir-se inferior de forma alguma, mas anda por aí com o fracasso rabiscado nas costas. Pode ser coisa do seu psicológico e até uma fraqueza maior entre todas as suas fraquezas ou simples capricho do seu eu maléfico. E que palavra forte essa, você pensa, mas entende que todos necessitam de coisas más e boas para chegar ao autoconhecimento, e você fala disso como um professor. Autoconhecimento você já teve o suficiente e sabe que não vai mudar.
Você está assistindo um filme agora. Deitada ao seu lado se encontra sua nova namorada, com os braços ela parece dar um nó em seu tronco. Você sente calor, mas a garota quer estar sempre próxima e ela sorri uma porção de vezes também. O nome dela é Pâmela e ela acredita nos seus falsos sorrisos, Cesar. Você tem a sua certeza de que nunca ou raramente vale a pena sorrir verdadeiramente. Nunca se sentiu capaz de esboçar sorrisos aos ventos e a maioria faz isso. Você sempre se pergunta: Por quê? Você não sabe e continua odiando com todas as forças os sorrisos em excesso. Também não está acostumado com os relacionamentos e nem deve. Você sabe que no fim, pouco importa a diferença em suas expressões de felicidade, ou a maneira com que te olham e até mesmo seus perfumes exalando de suas peles suaves e incomparáveis. Uma mulher sempre está pronta para ir embora, para cavar seu tumulo e te jogar lá dentro. A pergunta incansável que vem até sua cabeça é: Quantos túmulos teria de ter até a morte? Você não pode dizer uma quantidade exata, mas pode torna-los mínimos. Relacionamentos quando não são cansativos, são passageiros e vice-versa, ou ambos.
Pâmela tem amigos que você odeia sem nem mesmo os conhecer. Não há nada a ser feito perante isso, e você aceita os fatos, mas não confia plenamente na mulher e acha que nunca vai confiar. Tem sempre uma pontada em seu cérebro, uma coisa que quer inibir seu sistema respiratório e te incinerar por dentro como um cadáver no crematório. Pâmela também ficou amiga de Tomás, de uma hora para outra. Na verdade foi Tomás quem a procurou, o que te deixa mais irritado e cheio de ódio que qualquer outra vez em sua vida. E não é só por isso, você sabe que não é a primeira vez que Tomás vai atrás de uma mulher sua.
Tomás tem todo o jeito de modelo, com suas malditas tatuagens, ao contrário do seu, desengonçado e magricelo. Você sabe que não tem inveja, inveja é uma coisa muito baixa, você só admira o podre e quer acabar com o belo, também não é só isso, outros dos seus ódios são essas pessoas que falam muito para o pouco que fazem, ele é assim. Sua implicância perante Tomás e todas as coisas que ele faz só aumenta. A mania de aparecer em todos os lugares que ele tem, seu rosto bonito desafiando sua vontade de destruir coisas belas, Cesar. Aquela mania dele, de querer parecer malvado nas redes sociais, mesmo distribuindo bondade por todas as frestas do corpo. Parece mesmo que agora é moda ser mal na internet, você pensa. E bancar o revolucionário também. Imagens sobre a politica são tão inúteis quanto os balbucios de um padre numa igreja, porra. Tudo o que ele faz te causa náuseas de ódio, todas essas coisas estúpidas que acabam vindo dele, com aquele corpo enfeitado. Todos ao redor achando isso uma maravilha, aplaudindo a falsa moral e aquelas atitudes todas que nada condizem com as palavras que saem da boca, inclusive Pâmela. Isso te leva á loucura, te leva ao mais profundo abismo da raiva. Pâmela nunca perceberá, e isso nunca te deixa em paz, não sai da cabeça. Ele ainda se faz de seu amigo, Cesar, e você ri. Ri por fora, mata por dentro. É você se escondendo mais uma vez, tapando suas feridas na escuridão do seu espirito em desespero, da sua vontade translúcida de acabar com toda essa palhaçada. Reconhecimento desmerecido para os vermes é o que mais existe no planeta e isso paira bem no fundo do seu encéfalo agora.
O filme já está no final e você o passou navegando em sua consciência. Pâmela em seus braços, seus pensamentos naufragando na realidade. A TV, os rostos carregados de morte, a rotina, o trabalho que nunca basta, o planeta transformado em máquina, a chaga recente que aquela outra mulher lhe causou que nunca cicatriza. Tanto para odiar, pouco para amar é o que resume a sua vida. Você vê com antecedência as coisas boas tomarem distancia e dissiparem na atmosfera. Você sente que tudo te deixa para trás e agora até seus poemas que nunca serão reconhecidos resolveram fugir, Cesar.

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