domingo, 12 de agosto de 2012

Um poema áspero

a estupidez te domina tão rápido
quanto exércitos de homens enfurecidos pela pátria
mal colocada na
história e
não importa a quantidade
de garrafas entornadas
as coisas não vão mudar.

é isso que Otávio diz
enquanto termina outro copo,

elas simplesmente não vão mudar
e vão te atormentar ano após ano,
ele continua.

não preciso de ninguém
não quero saber de nada - digo -
vamos apenas continuar na pegada.

Otávio pede mais duas doses de conhaque
e solta uma tímida gargalhada.

não só quer como lamenta a ausência
feito um cão,
você é sujo - solta outra gargalhada
é tão sujo que não pode viver sóbrio
você é sujo e fraco
e não aguenta um segundo
na escuridão

por um momento penso em fugir das coisas ruins
e ligo para Marília,
ao mesmo tempo que a chamada se propaga por meus ouvidos e
o som percorre meu corpo como uma corrente de vapor,
penso se há realmente algo a ser dito.

as coisas estão morrendo,
é tudo morte, uma sequência assassina,
lembro de quantas coisas matei pelo caminho
e
desligo antes que alguém atenda, sem pensar no meu número
cravado como uma chaga ali no aparelho que pertence a ela.

eu, uma chaga.
Marília, uma bênção.
uma paisagem tão longínqua quanto posso
imaginar.

derrotado outra vez
abandono a mesa enquanto Otávio
mergulha em outra
dose

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