domingo, 31 de outubro de 2010

Mordia os lábios pedindo ao céu carregado de nuvens negras e mórbidas que derrubasse toda a agua em cima do corpo, como num diluvio em que é preciso sair por ai, remando sem barco na tentativa de não se afogar. E era só tentar, no caso sempre se afogava rápido demais, tudo para ele era rápido demais, menos sua vida. O pai vivia dizendo: “Rapaz, você anda meio morto.” Ele respondia: “Não pai, ando mais que morto e minha carcaça ainda teima em respirar.” Nunca gostou de falar muito e o pouco que falava já o cansava de tal forma que o fazia sentir uma vontade desmedida de arrancar a própria língua. Na ultima vez em que resolveu dar um tipo de discurso, munido de coragem numa mão e amor na outra, falou por horas sem parar e terminou perguntando a si mesmo e para o nada que sempre insistiu em ficar ao lado, frio:
- O que fazer quando você fala, fala, fala e leva um tempo enorme pra perceber que passou ele todo falando com uma pedra?

2 comentários:

  1. Isso é tão... eu.
    Espero que isso soe como um elogio.
    E mesmo que não soe, saiba que está muito bom. Tragico e sensivel, apático e sofredor. Díficil manter tantas caracterísiticas juntas, sem descompassar o texto. Parabéns, e obrigada pelos comentários :)

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  2. "- O que fazer quando você fala, fala, fala e leva um tempo enorme pra perceber que passou ele todo falando com uma pedra?"

    Emudecer eternamente.

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