segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Vomitando em margaridas

P resolveu acompanhar seu amigo. O bar era supostamente um lugar incrível e cheio de gente interessante. Ficar em casa num sábado à noite era um absurdo dizia A, que chegou buzinando. P olhou pelas frestas da veneziana e lá estavam em meio à escuridão da rua, as luzes do Astra preto, esperando impacientemente. Ele desceu as escadas, pegou a chave da casa, acenou para seus avós que assistiam alguma merda dessas que passam na televisão e sumiu pela porta da frente.
Já no carro, apertou o cinto e bateu a porta com força. Estava irritado por sentir-se praticamente obrigado a sair da cama. A sorriu e foi arrancando enquanto começava com a ladainha de sempre.
- Então cara, que bom que vai hoje, open bar... 25 reais!
- Hm.
- Sem contar que vai estar lotado, muita mulher!
- É...
- Até você vai pegar alguém hoje!
- Tá, tá.
Deram duas voltas no quarteirão para conseguirem estacionar o carro. O lugar realmente estava lotado, muitas eram as rodas de amigos, varias garotas acompanhadas e também sozinhas... Garotas bonitas. Ainda assim, tudo aquilo parecia outro mundo para P, todos ali pareciam bestas de saliva corrosiva. Verdadeiros monstros prontos para o ataque e tudo o que ele queria era uma garrafa de rum, as paredes do quarto e sua cama e suas músicas, chuva também, muita chuva.
Encontraram ali mais alguns amigos e foram em direção ao balcão. Open bar de tequila era uma coisa mágica naquele momento, P virou duas logo de cara e já arrematou uma cerveja.
- Ei cara, vai com calma – falou algum dos rapazes
Pouco a pouco a roda foi sumindo, desintegrando. Vez ou outra, algum dos amigos que antes estavam ali passava com alguma menina bonita nos braços.
P já estava na oitava lata de cerveja, depois de algumas outras doses de tequila, parado sozinho em frente ao balcão quando apareceu A e duas garotas.
- Bom, esse é o meu amig... Oh merda, outra vez?
- Qual é? Não me incomode!
As garotas começaram a dar risinhos sarcásticos e seus belos olhos ficaram carregados de deboche.
- Olha, ele só está um pouco bêbado, mas é um cara legal.
- Eu acho que ele vai vomitar... – disse uma das meninas.
- Que nojo, eu acho que ele babou cerveja, vejam na camiseta. – falou a outra
- Não vou vomitar vadias, saiam daqui todos vocês! – gritou P.
- Ele é poeta, escreve... Não sei por que faz isso, juro que é um cara legal. Semana que vem ele não estará bêbado, eu prometo Priscila.
Os três foram se afastando e desaparecendo pouco a pouco no meio do povo, A abraçava a outra menina e dava alguns beijos em seu pescoço, até que sumiram da vista opaca de P, alterada pela bebida.
P resolveu sair fumar um cigarro. Vomitou no canteiro de margaridas, procurou nos bolsos algum dinheiro, achou 10 reais. Caminhou pela avenida a passos tortos e antes de ir para casa gastou o resto da grana em pó. No caminho, vomitou mais duas vezes, arranhou os joelhos e a testa e os braços. Quando viu-se trancado no quarto as 4:30 da manhã, todo sujo e completamente dopado pôde sentir-se um pouco melhor, um pouco seguro, talvez feliz. Tentou escrever no caderno que sempre ficava aberto em cima da bancada, antes de cair.
Acordou às duas da tarde, com a batendo na porta. O lugar cheirando azedo e álcool, a cabeça pregada no caderno. Nas folhas todas as palavras estavam borradas por vomito e talvez algumas lágrimas.

5 comentários:

  1. é.. fazer o que. /// cê tem msn? o meu é marinasisilva@hotmail.com

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  2. todos nós gostamos de foder tudo e sentir pena por nós mesmos... propositalmente.

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  3. gostei mesmo, mesmo... achei incrivel a alegoria das margaridas, talvez seja algo pessoal, mas o texto foi mto bem construido, deu uma sensaçao de percepção a mais, sabe? alem do personagem, alem do fragmento... nao sei explicar. Eu geralmente nao comento pq sou pessimo nisso.. li mta coisa sua, mas aki senti uma vontade de levantar a mao e falar. Escrevo demais.

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  4. Achei incrivel, profundo e triste.
    me identifiquei com a parte que ele prefere ficar sozinho no quarto, escrevendo e com mta chuva.
    Estou te seguindo e adorei seus textos, um grande beijo ;*

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  5. a montagem dos fatos ficou muito boa, parabéns. e, isso me pareceu um grande desabafo pessoal, guilherme.
    *ah, sim. só tirando dúvidas. seria estranho se você não fosse daqui do brasil, haha.

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