segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Poema bêbado do terrorismo

vi o Marcos explodir
pela boca essa noite,
seus olhos de carvão
apagaram por alguns minutos
e a mulher começou a chorar
machucada pela pior
das coisas

vi o Marcos explodir
essa noite e
seu nariz despejou
sangue na minha
blusa e
quando rastejou pelo
piso cinza - juntando pedaços,
os próprios pedaços
ele tentou levantar apoiando as
mãos úmidas na parede.

enquanto ele se debatia
para ficar em pé,
eu imaginava quando os outros
explodiriam também - cada qual
com sua bomba.
eu sei, é inevitável não cansar
de carregar tanta merda
em meio a todo o sangue
girando no corpo, sufocando
o coração

isso aqui, meu amigo
é só um solvente;
e por algum tempo
você esquece que
todos acabam praticando o
terrorismo.

quando sento
diante dessa maquina tremula e
batuco nas teclas, na verdade
estou explodindo
também.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Ontem à noite

Precisei falar com você ontem à noite. Precisei olhar para todos os teus dedos e dizer o quanto eu gosto da tua mão pequena, tão bonita e macia como se fosse de mentira. Precisei cair da cama e bater o nariz no criado mudo pra perceber que você não estava ali. Não tinha calor, nem um céu no teto do quarto. Não tinha um buraco negro dentro do guarda roupa e nem o seu cheiro no travesseiro. Não tinha mais nenhum fio dos teus cabelos escuros preso na rede da varanda. E como era bom deitar contigo ali durante a noite, ficar com os dedos perdidos nas madeixas que escorriam da tua cabeça, só pra ver os morcegos comerem as frutas da árvore do vizinho e contar historias sobre a lua e sobre a maldade desse mundo mesmo que não fossem nada bonitas, mas eu sabia que você gostava de coisas verdadeiras.
Sabe que ontem também tentei te ligar, mas fiquei com medo. E você sempre dizia que eu era medroso em relação a tanta coisa. No fundo não é culpa minha; é como se tivesse outro alguém morando na minha cabeça, alguma coisa que me puxa pra dentro de mim mesmo, algum outro eu segurando minha própria garganta, querendo incondicionalmente sufocar. O mesmo eu que não tem medo das coisas ruins, mas que cansou de lutar contra uma tempestade inacabável aqui. Uma tempestade que já me arrastou e vem tirando muito de mim nos últimos anos. Até preferia ter te conhecido em outra época se é que me entende, numa outra vida talvez. Isso só pra não ter essa lembrança me prendendo nesse lugar horrível. Só pra não sustentar esse lixo de esperança por mais tempo.
Não queria que fosse assim, essa merda toda banhada em álcool – minha vida – indo cada vez mais longe, dando tantas voltas pra chegar ao mesmo lugar. Ando agonizando e me arrependendo de coisas que nem mesmo sei. Ando vivendo e morrendo de saudade enquanto meus passos quase já não são mais passos.