sexta-feira, 13 de maio de 2011

Algo mais sobre coisas na montanha

Existe pelo menos uma centena de pessoas vivendo o mesmo pesadelo com seus calçados encardidos e cantando e esperando a morte dentro de seus carros pretos e brancos e amassados passando todos os dias por essa rua suja e fria, entre a tristeza das casas pequenas e grandes que em silêncio disputam terreno e o pouco de sol que pode chegar aos meus olhos, como uma nevoa amarela e quente que derrete as artérias, o fígado, as vísceras todas. Permaneço estático na varanda imaginando o horror e a feiura de tudo isso. Aquela gente, aqueles olhos e mãos, aquela fumaça infinita envolvendo o rosto, apertando o pescoço como um alicate gigante e tudo mais te cutucando com vozes iguais e famintas. Eu sei que tenho algum problema, alguma falha em olhar para o mundo e nada sentir, além de tristeza e vergonha, mas isso já não me importa.
Sua cabeça não é muito diferente dessa coisa insana e desgovernada em que estamos metidos. Acho mesmo que você viaja demais, tanto quanto eu, que costumo dar voltas ao planeta sem mover as pernas, nem gastar a sola dos sapatos. Quando falo sobre a sua cabeça misteriosa como uma caverna, não é por querer procurar alguma coisa, mas sim me esconder no teu breu e necessitar como ar desse canto confuso sim, mas também bonito que me alivia uma porção de dores e pequenas feridas que se espalham juntas aos ponteiros do relógio, lá no fundo do meu crânio.
Talvez eu seja mesmo um otário, como você tanto gosta de repetir nos seus momentos difíceis em que tento quase sempre sem sucesso, respirar fundo e fechar os olhos. Mas naquele dia, quando me perguntou se eu achava boba toda aquela historia antiga sobre termos uma coisa na montanha e eu disse não, porque no fundo era uma historia sincera de algo que eu realmente queria e o seu sorriso tímido se estampou no rosto rabiscando outra pergunta silenciosa “Mas comigo ainda ou sem?” Já era pra você saber, guria: A montanha sem você, não seria a montanha.

3 comentários:

  1. acho bizarro. escreve tao facil ao que parece. e é muito bom,

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  2. "costumo dar voltas ao planeta sem mover as pernas, nem gastar a sola dos sapatos"
    Ah, que genial! Parece simples, mas foi muito bom =]

    Gostei do blog, de verdade =D
    Segui \o (SE quiser retribuir: http://e-raumavez.blogspot.com/)

    Beijo

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  3. Já sei que posso mesmo ficar muito tempo perdida, sem passar por aqui. Quando volto tem sempre algo incrível para me dar conta de mim mesma (:

    "A montanha sem você, não seria a montanha."

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