domingo, 12 de setembro de 2010

A noite estava quente, mas um certo frio resolvia aparecer hora ou outra entre as paredes e os moveis, devido a sombra escura de solidão que se plantava ao meu lado, sob a luz do quarto. A graça do frio consiste em se aquecer de alguma forma, mas quando você sente frio em pleno calor, as coisas costumam ficar complicadas, e eu sabia disso por outras tantas estações.
Isabela é a pessoa mais pura que eu conheço, quero fazer por ela, o que nunca serei capaz de fazer por mim. Não sei porque mas tento ao máximo não demonstrar, deve ser esse meu jeito seco de viver que me faz agir assim, mas nunca faço por mal, espero que ela saiba disso.
Naquela mesma noite, quando me ligou, eu estava bêbado e não queria conversar, o problema é que Isabela sabia como ter minha atenção:
- Ei. Disse ela com aquela voz preguiçosa e realmente anestesiante para os meus ouvidos.
- Isa, não é um bom momento. Tentei disfarçar a voz de cachaceiro ambulante.
- Você ta bêbado, filha da puta.
- Não, digamos que bebi um pouco...
- Pouco? Pouco nada, não conversei com você sobre a bebida?
- É, conversou, mas ela é uma boa amiga. Gargalhei e acendi um cigarro
- Por que você faz isso com você mesmo?
- Comigo mesmo? Ora, quem sou eu? - Houve um silencio por parte dela e eu continuei - Sou um cara bêbado, que ainda assim consegue ser são o suficiente para enxergar todas as porcarias que existem nesse mundo.
- Só queria que você se cuidasse um pouco... Desligou sem dizer mais nenhuma palavra.
Sempre odiei aquele barulhinho que faz o telefone quando não tem ninguém na linha. Achei que era o momento de me servir de mais uma dose do rum, a garrafa parecia me chamar. Foi o que fiz.
Eu tenho que proteger Isabela. Ao mesmo tempo em que não quero que ela desperdice seu tempo comigo, quero sua atenção e carinho. É estranho.
Eu posso compara-la com algum tipo de droga mas ela não é como uma, longe disso. É uma parte de mim, um órgão vital.
A cada dia que passo vivendo nesse globo de mentiras, fico mais crente de que felicidade é apenas uma ilusão criada por todas essas coisas ruins e tristes que nos rodeiam.
Isabela não concorda, esta presa a muito tempo numa dessas ilusões. De certa forma deve ser bom ficar preso por muito tempo nisso, mas isso é algo que nunca vou de fato saber.
Não existe prazer em ser sozinho. Não existe prazer nessas coisas.

5 comentários:

  1. Eu fico impressionada... No Brasil, temos escritores muito bons, mesmo o brasileiro tendo essa fama de "mau leitor".
    Olha, parabéns pelo texto e pelo blog.
    Escreva sempre! ;)
    Abraço

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  2. vale fazer comentários internos?
    faço sempre.



    christinna.

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  3. Eu tenho palavras para o seu texto... Ótimo!

    Puro e verdadeiro, realmente adorei.

    Parabéns!

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  4. cara, que texto foda.

    ´´A cada dia que passo vivendo nesse globo de mentiras, fico mais crente de que felicidade é apenas uma ilusão criada por todas essas coisas ruins e tristes que nos rodeiam.´´

    muito bom..

    abraço

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