quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Duas semanas. Duas semanas que não encontro nem céu, nem inferno aqui dentro dessa poça vermelha em que noite após noite costumo me afogar. Afundo-me na coberta, sem frio, sem calor, sem amor, sem nada de nada. As vezes é como se eu fosse uma alma perdida e cega, que deixa esse corpo esculpido de carne e ossos e sangue na margem do esquecimento para flutuar numa galeria circular e escura, caótica, na espera de coisas que nunca vão aparecer, nem retornar e que só vão aumentar a invalidez dos gestos que tenho tomado mesmo pensando num sorriso sem mascara. Te aviso agora, antes que passes por aqui; quando possível abandone a esperança, ela é uma espécie de duvida e muitas vezes não depende apenas de ti, ela abre feridas profundas, doloridas que talvez nunca mais fechem. Perceba que o que resta a fazer é abraçar a certeza, ela por mais indigesta que seja, te arrancará menos pedaços.
Mas aqui dentro, nesse lugar em que me perdi, descobri que não é preciso morrer para estar morto. Nem nascer para chegar até a morte. E a única coisa que espera tão paciente quanto a esperança e o sol que se diz tão poderoso mas gosta de mentir, é a lua com sua força tímida, pequena, mas que ilumina até mesmo as noites mais escuras.
O ultimo dia há de ser feio como nunca antes algum outro dia chegou a ser, o sol irá apagar e só ela, a lua, terá forças para continuar espiando.

8 comentários:

  1. Por um momento pensei que eu havia escrito estas palavras!

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  2. "O ultimo dia há de ser feio como nunca antes algum outro dia chegou a ser (...)"
    Talvez a feiura não esteja no dia, que pode ser o mais limpo e puro e fantastico de todos, mas por representar o fim do que poderia ser a tua propria fantasia.
    Mas, confesso, a lua me é tão mais atraente...

    Obrigada pelos elogios de sempre, e devo dizer que essa tua sangria é a mais prazerosa que já vi hahaha

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  3. Ah... A verdade é que sua escrita me encanta amigo. Acho tudo por aqui agradável e tranquilo. Existe sim uma alma doída. Mas acaba por tornar tudo muito mais belo. Mesmo sem versos, tudo aqui me lembra poesia.

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  4. "Perceba que o que resta a fazer é abraçar a certeza, ela por mais indigesta que seja, te arrancará menos pedaços." Gostei muito, escreve muito bem. Parabéns.
    Beijos.

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  5. Velho, isso ficou muito bom! "O ultimo dia há de ser feio como nunca antes algum outro dia chegou a ser, o sol irá apagar e só ela, a lua, terá forças para continuar espiando". Cara, incrível!

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  6. aproveitando a minha insônia agora,talvez eu mantenha a esperança,ao menos ela me faz sentir que há alguma coisa funcionando.
    e talvez,se lhe servir de conforto,coração de homem algum fica ausente pra sempre...e se se passar tempo demais,é por preguiça do próprio.

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