terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sorriso azul

E ela dizia "ah pelo menos você está vivo" enquanto cruzava os braços, parada sobre a soleira da porta, terminando o cigarro. Depois agitava os cabelos caramelados enquanto me entregava um sorriso daqueles bem azuis. Aquilo vinha sobre mim com a força de um avião cargueiro do exercito colidindo com uma montanha seca e cinza. "Tem muita gente na pior, vendendo até as unhas dos pés e perdendo um dente a cada dia" completava, sempre acompanhada pelo sorriso azul. E quando eu acordava feliz e de pau duro, sem espumar pela boca e pelos olhos, procurando pela garrafa antes do nosso jogo matinal, ela revirava na cama, enrolada no lençol verde claro, manchado com molho de tomate. "Você precisa parar de beber." E então lá estava outra vez o sorriso azul, sempre dizendo que havia algo de muito errado comigo.

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